Em todo o mundo, desenvolve-se neste momento a consciência de que as mulheres têm muito a contribuir nas profissões ligadas a essas áreas.
Moro nos Estados Unidos com meu marido (americano) e filhos (que se dizem “brasicanos”), e aqui as férias de verão se iniciam antes do mês de julho. A data depende da quantidade de neve que tivemos no inverno, ou seja, dos “snow days” – dias escolares cancelados por motivo de nevasca. Mas enfim, em um dia ensolarado, em junho, minha filha mais velha chegou em casa da escola. Estava feliz. “Tirei quase tudo A. Só matemática, tirei B+. Eu sou menina, né? Não gosto de matemática!”
Fiquei feliz com as notas, mas triste com o comentário. Há, na realidade, mulheres que contribuem ativamente no mundo STEM – sigla em inglês para Science, Technology, Engineering and Mathematics, e eu gostaria que minhas filhas tivessem mais entusiasmo pelo assunto. Afinal, elas têm o pai e a mãe trabalhando na área de tecnologia!
O sucesso do filme “Estrelas além do tempo” – em que três mulheres negras, em um ambiente de segregação racial, contribuem decisivamente para concretizar o voo do astronauta John Glenn em plena Guerra Fria – mostra o sucesso que mulheres podem obter nas carreiras ligadas à ciência e à tecnologia.
Um outro exemplo foram “as meninas do ENIAC”, seis jovens estudantes consideradas hoje as primeiras pessoas a programar computadores. Recrutadas pelo governo norte-americano na Universidade da Pensilvânia por seu conhecimento de matemática, elas foram contratadas para fazer funcionar uma máquina desenvolvida pelo Exército dos Estados Unidos entre 1943 e 1945: um monstro de 30 toneladas, com mais de 17 mil válvulas e 1.500 relés que se chamava Electronic Numerical Integrator Analyzer and Computer e seria usado em auxílio às tropas aliadas na Segunda Guerra Mundial se tivesse ficado pronto a tempo.
Essas mulheres norte-americanas, exceções em seu tempo e ainda hoje, têm sido ultimamente lembradas. Pois o país está acordando para o fato de serem ainda poucas as mulheres nas áreas STEM. Aqui nos Estados Unidos e em todo o mundo, desenvolve-se neste momento a consciência de que as mulheres têm muito a contribuir nas profissões ligadas a ciência e tecnologia – que grande parte da sociedade ainda acredita serem carreiras tipicamente masculinas.
Trabalhando na área de marketing de uma empresa especializada em segurança cibernética, eu me vejo também comprometida com essa discussão.
Nós não precisamos de estatísticas para saber que as mulheres são minoria no campo da TI. E mais ainda no que diz respeito à segurança da informação.
Mas temos alguns números. Um recente estudo assinado pela Frost & Sullivan (The 2017 Global Information Security Workforce Study: Women in Cybersecurity), com dados de 2016, aponta que a participação feminina no mercado global de segurança é de apenas 11% – igual, percentualmente, à participação das mulheres nesse mercado em 2013. Nos Estados Unidos, elas são 14%, e na América Latina apenas 8%.
Segundo a pesquisa, que ouviu mais de 19 mil profissionais de segurança em 170 países, as mulheres ainda ganham menos que os homens para trabalho no mesmo nível, e 51% delas reportaram “várias formas de discriminação no trabalho em cibersegurança” – o que talvez se reflita no pequeníssimo número de mulheres em posições de diretoria e cargos executivos na alta administração das empresas, que não passa, globalmente, de 1%.
É evidente que, no interesse de todos, esse panorama deve mudar. Além de já estar claro, no mundo corporativo, que a diversidade constrói melhores times, as mulheres também podem contribuir para preencher parte do déficit de 1,5 milhão de postos de trabalho em cibersegurança até 2019, como identifica a pesquisa da Frost & Sullivan.
Nos Estados Unidos – e espero que em breve no Brasil, também – estão sendo criados programas com o objetivo de atrair meninas e mulheres adultas para as áreas da ciência e tecnologia. No que toca especificamente à segurança, um exemplo é a parceria de uma empresa americana na área de tecnologia com as escoteiras, visando despertar o interesse de meninas a partir de cinco anos de idade por questões de segurança digital.
Entre as iniciativas no sentido de estimular a presença feminina nas empresas de tecnologia e segurança da informação, temos, por exemplo, o Girl Develop It, de alcance global.
Tive a oportunidade de conversar sobre o assunto com minha colega Grace Trevelin, especialista em segurança cibernética, que trabalha no Brasil. Ela se formou em Sistemas da Informação e logo se interessou pela área de Segurança. Em duas empresas de consultoria onde trabalhou, descobriu que ganhava menos que seus colegas homens, além de ter mais dificuldade para conquistar seu espaço profissional.
“As piores experiências que tive, acredite se quiser, foram originadas no preconceito vindo de outras mulheres. Infelizmente, em vez de nos unirmos, muitas vezes o desrespeito vem do mesmo gênero”, comenta Grace. E continua: “Muitas vezes temos que provar que somos mais que nossa aparência, o que dificilmente acontece com os homens”.
Termino este texto pensando nos meus filhos – a mais velha com 13 anos, o do meio com 11, e a caçula com quase 4. Tenho fé nos avanços atuais, e esperança de que possam escolher suas carreiras sem enfrentar preconceitos e sem limitações. Que meu filho e minhas filhas tenham as mesmas oportunidades, que sejam respeitados, e que sejam felizes. O que mais uma mãe pode desejar?
Paula Ellis é responsável pelo Marketing da Arbor Networks na América Latina.
Fonte: CIO