O cacique xavante Juruna, circulava com um gravador para registrar conversas com outros políticos porque dizia que a palavra do homem branco não era confiável.
Na era digital, ameaçadas pela destruição de sua floresta e pela invasão da agricultura em suas terras, as tribos brasileiras estão publicando vídeos nas redes sociais e filmando com câmeras instaladas em drones para contar sua história e fortalecer sua ameaçada cultura.
Em uma reunião de centenas de líderes tribais amazônicos realizada nesta semana na reserva do Xingu para debater maneiras de resistir a planos do governo para os povos indígenas, cada discurso e dança ritual são gravados e compartilhados na internet.
A Mídia Índia, uma rede que se classifica como a voz do povo indígena, publica notícias e imagens no Instagram e podcasts no Spotify para ajudar a manter os 850 mil indígenas do país informados.
Erik Terena, um de seus organizadores, disse que isso se tornou uma tarefa mais urgente do que nunca desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro, que afirma que os povos indígenas não deveriam ser mantidos “como animais em um zoológico” e que pretende abrir reservas ao garimpo e à agricultura.
“Estamos vivendo sob um governo que usa notícias falsas e mente para prejudicar a população indígena”, afirmou. “Estamos tendo que lutar contra uma nova colonização recorrendo à etnomídia para contar a verdade sobre nós”, explicou Erik, membro da tribo terena.
Bolsonaro diz que seu plano para desenvolver a Amazônia tirará os povos indígenas da pobreza. Ambientalistas alertam que isso acelerará a destruição da maior floresta tropical do mundo, que é uma defesa contra a mudança climática.
A Mídia Índia começou como um canal de comunicação audiovisual para fortalecer as identidades culturais indígenas, segundo Erik.
Uma de suas postagens recentes mostrou o cacique kayapó Raoni Metuktire, amigo do roqueiro britânico Sting, durante a abertura da reunião no Xingu, na qual usava um cocar de penas de japu-preto e pedia que o governo Bolsonaro deixe as comunidades indígenas em paz.
Uma foto publicada em janeiro mostrou uma edificação em chamas após um ataque de homens armados que ameaçaram um vilarejo da tribo kaiowá no Mato Grosso do Sul, uma área que foi palco de violentas disputas de terra com agricultores nos últimos anos.
Documentando o evento, o diretor e fotógrafo Kamikia Kisêdjê disse que vídeos e fotografias digitais se tornaram uma ferramenta vital para transmitir a voz das tribos amazônicas, que estão perdendo suas terras ancestrais e seus lares florestais.