Problema dessa nova crise está na fragilização da economia, onde apenas bancos e empresas de tecnologia estão bem.
Existe uma recessão que se avizinha, menor que a crise dos derivativos de 2007 a 2009, e certamente diferente da Covid-19 em 2020, porém a nova recessão ainda tem consequências imprevisíveis.
A alta global dos combustíveis, que empurra junto os alimentos, representa um aumento ainda maior no grau da fome nos países com uma população maior de pobres, sem renda distribuída e com frágil rede de assistência social. O problema dessa nova crise, está na fragilização atual da economia, onde apenas bancos e empresas de tecnologia estão bem, ou seja setores que pouco fazem pela distribuição de renda, antes pelo contrário, são exímios concentradores de mais rendas dentro dos negócios que hoje chamamos de plataformas.
Como sempre, serão os pobres quem devem pagar a parte mais elevada dessa cona, devido a sua já fragilidade, onde o rico corta a viagem ao exterior o pobre corta a carne e o pão.
No último mês de abril, nos EUA, os preços ao consumidor foram 8,3% superiores aos do ano anterior. Mesmo excluindo os preços de alimentos e de energia, a inflação anual é de 6,2%. Os problemas na cadeia de suprimentos podem se intensificar enquanto a guerra assolar a Ucrânia e a China continuar com a política de tolerância zero contra a Covid-19.
O mercado de trabalho americano está aquecido, com quase duas vagas para cada trabalhador desempregado em março, o maior registro desde 1950, quando os dados começaram a ser coletados. Uma medida do crescimento salarial do Goldman Sachs está em uma alta histórica de quase 5,5% – uma taxa que as empresas não podem suportar, a menos que continuem a aumentar os preços rapidamente.
Na crise de 2007-2009 o sistema financeiro congelou e, em 2020, a atividade em setores inteiros parou. Ambas as recessões viram as quedas iniciais mais nítidas do PIB desde a Segunda Guerra Mundial.
Nesse momento os países do Oriente Médio e da Ásia estão enfrentando uma grave escassez de alimentos e um aumento nas despesas com combustível. A zona do euro está lidando com uma crise energética particularmente forte à medida que deixa de usar petróleo e gás da Rússia. Em todo o mundo, as rendas das famílias estão sucumbindo em termos reais, ao mesmo tempo o FMI diz que cerca de 60% dos países pobres estão tendo dificuldades com dívidas, ou estão em alto risco de passar por isso.
Toda essa pressão eleva ainda mais o preço dos alimentos, na medida em que os fertilizantes batem recordes, logo o desperdício nos alimentos, a importância estratégica da produção dos nossos fertilizantes e a reciclagem do lixo aumentam a sua importância.
Nesse momento, no Brasil, apenas 4% dos resíduos sólidos são reciclados, índice muito abaixo de países de mesma faixa de renda e grau de desenvolvimento econômico, como Chile, Argentina, África do Sul e Turquia, que apresentam média de 16% de reciclagem, segundo dados da International Solid Waste Association (ISWA), ou seja reciclamos apenas ¼ doque o fazem países nas mesmas condições do Brasil. Quando comparamos os nossos números aos países desenvolvidos, nosso atraso é ainda mais evidente, pois em países como a Alemanha o índice de reciclagem representa 67%.
A recuperação desses resíduos implica em menos dispêndio de energia, mais adubos orgânicos, e mais empregos, e a tecnologia de rastreio poderia ser uma grande aliada nesse processo.
Faltam unidades para descarte separado, coleta seletiva; faltam unidades de triagem, e claro como elemento legal regulatório, falta uma estrutura fiscal tributária para permitir que esse material reciclável seja atrativo para a indústria.
Os materiais recicláveis secos representaram 33,6% do total de 82,5 milhões de toneladas anuais de resíduos sólidos urbanos (RSU) produzidos durante o período da pandemia da covid-19, nos anos de 2020 e 2021. De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos 2021, divulgado pela Abrelpe, o Brasil contabilizou 27,7 milhões de toneladas anuais de resíduos recicláveis, números reproduzidos em uma reportagem da Revista Exame.
Embora os materiais recicláveis secos tenham ampliado sua participação no total de resíduos sólidos urbanos (saindo de 31,7% em 2012 para 33,6% na última pesquisa), a fração orgânica permanece predominando como principal componente, com 45,3%, o que representa pouco mais de 37 milhões toneladas/ano.
De acordo com a pesquisa, os resíduos recicláveis secos são compostos principalmente pelos plásticos (16,8%, com 13,8 milhões de toneladas por ano), papel e papelão (10,4%, ou 8,57 milhões de toneladas anuais), vidros (2,7%), metais (2,3%) e embalagens multicamadas (1,4%). Os rejeitos, por sua vez, correspondem a 14,1% do total e contemplam, em especial, os materiais sanitários, não recicláveis. Em relação às demais frações, a sondagem mostra que os resíduos têxteis, couros e borrachas detêm 5,6% e outros resíduos, 1,4%.
Apenas os recicláveis que vão para lixões levam a uma perda de R$ 14 bilhões anualmente, que poderiam gerar receita e renda para uma camada de população que trabalha com essa atividade, o que implica na geração de emprego da mão de obra mais simples que mais sofre com a inflação e com a transformação digital.
Ao mesmo tempo a pressão de custos dos insumos deve fazer com que tenhamos a safra mais cara da história, na medida que o gasto médio para produção de um hectare deve crescer quase 50% para a soja e o milho em relação à última safra, o que representa alimento ainda mais caro na mesa do brasileiro.
Fertilizantes, defensivos e combustível, subiram juntos e o Brasil tem solução para esses três elementos, basta ter vontade política e cuidar do que de fato influi nas rotinas dos brasileiros, ao invés de criar crises institucionais fantasmas que apenas servem para tirar atenção dos reais problemas que impactam a mesa e o bolso.
No último ano a tonelada do adubo subiu 120%, já o herbicida subiu cerca de 400% e o diesel que custava cerca de R$ 4 e agora está próximo de R$ 7.
Neste momento, o Brasil produz só 15% dos fertilizantes que consome, e a autonomia na produção deles representa alimento mais barato e competitividade nas nossas exportações.
Isso não é uma decisão de governo, mas de Estado, pra quem pensa de forma estratégica.