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Pela primeira vez na história recente, a Motorola está se posicionando para bater de frente com Samsung e Apple no quesito smartphones de elite.
A última vez que o mercado brasileiro viu um celular premium da Motorola foi em 2017, com o lançamento do Moto Z2 Force por aqui. Depois disso, outros países puderam conhecer o Z3 e o Z4, mas nenhuma outra família de aparelhos top de linha da marca foi anunciada novamente.
Apesar da incursão diferenciada com o reboot do Razr surfando na onda dos dobráveis, a fabricante, sob o controle da Lenovo, estava concentrando suas forças em dispositivos intermediários e de entrada. No entanto, essa “zona de conforto” não reflete a história da Motorola, que é um nome icônico no mercado de celulares. A primeira chamada com um telefone móvel, por exemplo, foi realizada em abril de 1973 com um Motorola DynaTAC.
Nos últimos anos, o mercado de smartphones sofreu uma alta apoteótica seguida por uma desaceleração. Os indicadores apontavam para a conclusão de que as pessoas queriam aparelhos mais baratos. No entanto, paralelo a isso, gigantes como Apple e Samsung começaram a estipular um novo patamar de preço para dispositivos premium: US$ 1.000 (ou R$ 10.000). E foi exatamente esse o preço em dólar escolhido pela Motorola para o seu Edge+.
De acordo com dados da IDC, os smartphones intermediários ficaram mais populares no Brasil em 2019, especialmente os modelos intermediários-premium, que trazem características dos top de linha com preços na faixa entre R$ 700 e R$ 1.099. No entanto, à medida em que os preços aumentavam e as vendas de smartphones caíam, empresas como Apple e Samsung repensaram suas estratégias. No ano passado, elas optaram por lançar versões “menos caras” dos seus smartphones premium, como o Samsung Galaxy S10e, o Pixel 3a e o iPhone 11.
Aqui temos um ponto para a Motorola, que já chegou com uma opção “mais em conta” em relação à versão Plus do seu novo aparelho. O Moto Edge deve custar cerca de US$ 300 a menos por conta de diferenças no conjunto de câmeras, na bateria e no processador.
Mas será que a Motorola ainda consegue voltar para a briga?
5G é um diferencial
Cristiano Amon, presidente da Qualcomm, disse que o lançamento de mais dispositivos com suporte ao 5G deve incentivar as pessoas a atualizarem seus smartphones. No entanto, os telefones 5G tendem a ser mais caros do que os modelos sem essa tecnologia — o Galaxy S10 5G, por exemplo, foi lançado por US$ 1.300.
No primeiro semestre de 2020, notamos uma nova movimentação no mercado: a chegada de dispositivos intermediários com suporte ao 5G, incluindo lançamentos da família Galaxy A, da Samsung. Em março, a Xiaomi também chutou o balde ao lançar o que chamou de “smartphone 5G mais barato do mundo”, o Mi 10 Lite, por 349 euros.
A Motorola já se atentou a isso e trouxe o 5G como um recurso matador da linha Edge. A empresa alega que ele é equipado com um conjunto de antenas compatíveis com mmWave e frequências abaixo de 6 GHz, que devem ser adotadas no nosso país. Ainda de acordo com a Motorola, o smartphone é capaz de atingir velocidades acima de 4 Gbps.
Legal, mas ainda não temos nem previsão de ter 5G no Brasil, então o que isso realmente significa para nós, brasileiros? Isso significa que um bom conjunto de antenas também vai melhorar a recepção do seu sinal 3G e 4G, além de já deixar o consumidor com um aparelho preparado para quando as redes de quinta geração forem oficializadas por aqui. Além disso, em um futuro ainda incerto, será possível usar o aparelho durante as saudosas viagens internacionais para países que já possuem essa tecnologia disponível.
Foco nos detalhes
É claro que a Motorola também não deixou de lado o básico que esperamos de smartphones top de linha, como o processador mais recente e poderoso da Qualcomm, o Snapdragon 865 e 12 GB de RAM.
A taxa de atualização de 90Hz da tela com suporte ao HDR10 também são pontos positivos, porém lugares comuns. O recurso Edge já tinha sido visto em concorrentes como a Samsung, mas a Motorola afirma que o display se curva em um ângulo de quase 90 graus na lateral do telefone, apontando para uma experiência mais parecida com o estilo “cachoeira” do Oppo Find X.
As três câmeras traseiras da versão Plus também são o que esperamos de um flagship, incluindo uma principal de 108 megapixels, que permite a entrada de muita luz, uma telefoto de 8 megapixels e uma grande-angular de 16 megapixels.
Mas eu gostaria de chamar atenção para três detalhes que costumam ser negligenciados até mesmo em smartphones mais caros:
- qualidade de áudio
- conector de 3.5mm para fones de ouvido
- bateria
A Motorola destaca que o áudio do Motorola Edge foi sintonizado pelo software Waves MaxxAudio, vencedor do GRAMMY. Entre outras características, ele consegue ampliar a curva de resposta dos graves para além dos recursos físicos de hardware. Além disso, o sistema também possui presets que mudam automaticamente para configurações específicas de som de acordo com o conteúdo, incluindo jogos, vídeo, música ou voz. De acordo com a Motorola, os algoritmos do software oferecem ao Edge+ os alto-falantes mais poderosos já vistos em um smartphone.Software ganhador do GRAMMY foi usado no Motorola Edge (Fonte: Divulgação)
Ainda falando de áudio, um detalhe que pode parecer bobagem, mas definitivamente não é: a presença de um conector de 3,5 mm para fones de ouvido, uma raridade em smartphones premium. Mais um ponto para a Motorola.
Passando para a bateria, ver 5.000 mAh em um aparelho de elite também é algo raro. Este é um dos pontos que mais me chamou atenção no Edge+, já que é a mesma do Galaxy S20 Ultra, enquanto o irmão Edge tem 4.500 mAh. No entanto, isso é algo que precisa ser testado na prática, para ver se a autonomia é realmente tudo isso.
Ainda é tempo?
No papel, as especificações do Moto Edge+ são muito interessantes e ele parece pronto para brigar de igual para igual com os seus concorrentes de peso.
O principal campo de batalha para marcas intermediárias que tentam atacar celulares premium gira em torno de displays e câmeras, então a Motorola já tem algumas pequenas vantagens com o 5G e o áudio diferenciado.
Ainda é estranho ver que a Motorola voltou a se arriscar no mundo premium, principalmente porque, nos Estados Unidos, ela vai limitar a venda inicial do Edge a apenas uma operadora. Ainda não sabemos qual será a estratégia no Brasil, a não ser que os modelos serão produzido localmente, na fábrica de Jaguariúna (SP).
No entanto, talvez este ano seja o pior ano possível para lançar um smartphone caro. É claro que nenhuma pandemia mundial estava descrita nem nas piores previsões da fabricante, mas o fato precisava ser encarado, e cá estamos nós, ansiosos para testar de perto essa nova incursão da tradicional Motorola.