Há 15 anos Steve Jobs apresentava iPhone e promovia revolução tecnológica

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Em 2007, Steve Jobs revolucionaria não só a indústria da tecnologia, mas o mundo


Símbolo dos smartphones, a Apple lançava há 15 anos seu primeiro iPhone. O anúncio oficial do produto aconteceu em 9 de janeiro de 2007, mas o lançamento no mercado dos Estados Unidos veio mais tarde, em 29 de junho daquele ano.

No Brasil, o primeiro a chegar foi o da segunda versão, o iPhone 3G, em 2008. Hoje, um total de 33 séries de iPhones já chegaram às mãos dos consumidores — os mais recentes deles (os iPhones 13, 13 mini, 13 Pro e 13 Pro Max) foram lançados em 2021.

“Hoje, a Apple vai reinventar o telefone”, disse Steve Jobs, cofundador da empresa, durante a apresentação do iPhone. Diante de uma plateia entusiasmada, ele descreveu o aparelho, em um primeiro momento, como uma junção de iPod, telefone e dispositivo de comunicação via Internet.

Comparando o iPhone a outros smartphones que estavam no mercado no momento — BlackBerry, Moto Q, Nokia 62 e Palm Treo —, Jobs deu ênfase à interface do novo aparelho, que, diferentemente dos demais, não possuía teclado de botões. “O que nós queremos fazer é criar um produto que vai dar um salto, que seja muito mais inteligente do que qualquer outro aparelho móvel, e super fácil de usar”, exaltou.

Além do pioneirismo no nicho, um dos fatores que sustentaram a relevância da marca ao longo dos anos foi a criação não apenas de novos produtos, mas de todo um ecossistema digital.

“O iPod não é apenas o aparelho, ele está ligado ao iTunes. Assim como o iPhone não vem sozinho, ele está ligado ao sistema operacional iOS e todos os aplicativos que vêm com ele”, afirma Christian Perrone, head de Direito e GovTech no ITS (Instituto de Tecnologia e Sociedade) Rio, que estuda o impacto e o futuro da tecnologia no Brasil e no mundo.

Em um ecossistema digital, as empresas criam uma rede de produtos e serviços integrados, que “conversam” entre si, o que pode otimizar processos para as companhias e trazer mais praticidade ao consumidor.

No caso da Apple e demais empresas voltadas à tecnologia, os softwares desempenham um importante papel como agentes desses ambientes digitais interconectados.

“O smartphone é o corpo, e os softwares são a alma”, diz Camila Ghattas, que estuda macrorrevoluções tecnológicas e trabalha com previsões de tendências.

Ela considera que a Apple tem os smartphones como commodities, e que eles nada mais são do que uma grande plataforma que abriga infinitos softwares, projetados para atender quaisquer tipos de demanda.

A qualidade desses softwares, segundo Ghattas, é outro elemento que garante a relevância da empresa. “A Apple teve a capacidade de lançar o smartphone no mercado de forma mais esperta. Ela já tinha um hardware melhor do que os outros, mas o que fez de mais inteligente foi pensar no software, no ecossistema”, pontua. “O hardware por si só não teria tanta relevância sem as funcionalidades dos softwares.”

Marca mais valiosa do mundo

Em 2021, a Apple apareceu no topo da lista das marcas mais valiosas do mundo. O ranking, intitulado Best Global Brands 2021, foi divulgado pela Interbrand, uma consultoria mundial de marcas. No ano anterior, a empresa também havia sido apontada pela Forbes como a mais valiosa. Já neste ano, a Apple se tornou a primeira de capital aberto a atingir um valor de mercado de US$ 3 trilhões.

A empresa, no entanto, não é a líder de vendas global entre as fabricantes de smartphones. Durante todo o ano de 2021, a Samsung se manteve em primeiro lugar. Xiaomi e Apple se revezaram entre a segunda e a terceira colocação, de acordo com dados da Counterpoint Research. No último quadrimestre, a diferença foi pouca: a Apple possuía 14% do market share; a Xiaomi, 13%.

Lidar com a aproximação das empresas competidoras é um dos desafios sob a gestão de Tim Cook, CEO da Apple desde a renúncia de Steve Jobs ao cargo, em agosto de 2011, e sua morte, pouco mais de um mês depois. À frente da empresa, Cook apostou no investimento em serviços, na lógica de ecossistemas digitais. Dentre os principais serviços criados pela marca estão o iCloud (armazenamento em nuvem), Apple Music (streaming de música), Apple Podcasts, iTunes (reprodutor de áudio), Apple Arcade (assinatura de videogames), Apple TV+ (streaming de vídeo sob demanda) e Apple Fitness+ (aplicativo de acompanhamento de exercícios físicos. Além dos serviços, estão o sistema operacional iOS e produtos para além do iPhone, como iPod, iPad e MacBook.

O foco de Cook nos serviços pode ter compensado a desaceleração do crescimento do iPhone, visto que não ocorreu mais uma vez, nos anos mais recentes, outros lançamentos revolucionários. Estes eram marcas da carreira de Steve Jobs, que se consolidou como inventor apresentando, ao lado de parceiros, criações como os computadores Apple II e Macintosh, o iMac e o iPod — considerado uma espécie de precursor do iPhone.

Lançado em 2001, o reprodutor de mídia portátil era integrado ao iTunes e teve sucesso no mercado, conquistando adeptos não apenas por sua funcionalidade, mas pelo design e pela praticidade de uso. Não à toa, o produto foi citado inúmeras vezes por Steve Jobs durante a primeira apresentação do iPhone, em 2007. “Ele não somente mudou a maneira como todos ouvimos música, ele mudou a indústria musical inteira”, afirmou na ocasião.

Massificação dos smartphones

O celular é o dispositivo mais utilizado pelo brasileiro para acessar a Internet. Segundo a pesquisa TIC Domicílios 2019, 58% das pessoas que acessam a Internet o fazem somente por meio do aparelho móvel. As classes D e E e habitantes de áreas rurais são os que concentram o uso exclusivo do celular como instrumento de acesso on-line.

“O smartphone expandiu a ideia de Internet para nós. Ele se tornou a porta de acesso de muitas pessoas para o mundo digital”, diz Christian Perrone. Ele acredita que o iPhone tem um importante papel nessa mudança estrutural, uma vez que foi de fato incorporado pela população no Brasil e ao redor do mundo.

Para Perrone, a receptividade do produto se deve muito ao planejamento de interface e à experiência que o usuário tem ao utilizar o celular. “Existe uma preocupação com que as pessoas possam usar de maneira fácil, intuitiva, funcional.”

Além disso, o que também contribuiu para a adesão ao iPhone, segundo Perrone, foi o fator do desejo — vinculado à sensação que o usuário tem ao utilizá-lo. “A Apple surfou a onda da inovação e criou uma ideia de desejo em torno do produto”, afirma. A empresa teria fomentado, ainda, o interesse do mercado em relação às suas inovações tecnológicas. “O que a Apple colocava nos seus dispositivos, o mercado seguia.”

Apesar do fator do desejo, da experiência do usuário e do reconhecimento pela qualidade dos produtos, o iPhone não pode ser tido como um produto amplamente acessível, uma vez que sempre foi comercializado por valores considerados altos. Hoje, o modelo mais recente, o iPhone 13, custa a partir de R$ 7,6 mil no site da Apple Brasil. O modelo mais barato disponível atualmente na plataforma é o iPhone SE, que custa a partir de R$ 3,7 mil.

Principais marcos dos modelos

A cada novo lançamento, nos últimos 15 anos, os celulares traziam algum recurso novo, que impactava o mercado e a maneira como nos conectamos no cotidiano. A melhora das câmeras, o design com tela touchscreen e a passagem do 3G para o 4G — que possibilitou que possamos utilizar a internet móvel para diversos fins, desde pedir comida até encontrar o amor — são apenas algumas das principais mudanças ao longo da linha da evolução dos smartphones.

“Desde o iPhone 3G, o primeiro a chegar no Brasil, até o iPhone 4, todos os celulares vinham bloqueados para algumas operadoras. Naquela época, era necessário fazer modificações para desbloquear o aparelho para uso de qualquer operadora”, diz Rafael Fischmann, fundador e editor-chefe do blog MacMagazine, que produz conteúdo sobre produtos e serviços da Apple. Ele lembra, ainda, que o iPhone original não estava disponível no Brasil e que os preços já não eram considerados acessíveis. “Acho que toda essa aura restritiva também contribuiu com o sucesso inicial”, comenta.

O primeiro marco na evolução dos iPhones, para Fischmann, veio no iPhone 4 (lançado em 2010), que introduziu a tela retina, de maior resolução. Considerada, hoje, um padrão, a tela se diferenciava de outras da época, que ainda permitiam que se visualizassem os pixels.

“Qualquer pessoa batia o olho e percebia a diferença, era uma tela muito mais nítida”, afirma. O modelo também apresentou a câmera frontal, possibilitando as videochamadas. Um ano depois, com o iPhone 4S, surgiu a Siri, primeira assistente inteligente em um aparelho celular.

Em 2012, houve a passagem do 3G para o 4G, que ocorreu paralelamente ao lançamento do iPhone 5. Com a tecnologia, foi possível expandir as atividades realizadas pela rede móvel, abrindo novas possibilidades para a comunicação via voz, vídeo e redes sociais, por exemplo.

Já em 2014 — três anos após a morte de Steve Jobs — foram lançados os iPhones 6 e 6 Plus, com telas maiores que as anteriores (4,7 e 5,5 polegadas, respectivamente). Fischmann lembra que a mudança não foi bem recebida por alguns grupos, que a interpretaram como um ato de conformismo mediante o mercado. “A Apple sempre ditava a tendência. Era como se dissesse ‘A gente te diz o que você quer’. Mas, com o iPhone 6, ela seguiu a tendência, com telas maiores”, ressalta.

O iPhone X, lançado em 2010, foi, para Fischmann, o último grande salto. As novidades foram a tela de ponta a ponta (quase sem bordas) e a biometria facial. “Um sistema seguro”, destaca, “que não pode ser enganado por alguém segurando uma foto”.

Hoje, para o fundador do MacMagazine, o mercado já conquistou amadurecimento e chegou a um platô de inovação. “Todo ano surge algo diferente: recarga mais rápida, leitor de impressão digital na tela, resistência a água. Cada ano tem alguma coisinha que alguma fabricante traz”, comenta, salientando que as mudanças entre os lançamentos de hoje são muito menos disruptivas do que os grandes saltos de inovação que haviam entre os primeiros produtos.

A desaceleração no ritmo de lançamento de grandes transformações tecnológicas apresentadas pela big tech abre espaço para questionamentos sobre o que está por vir. “Por isso, se fala muito de qual será o próximo produto que vai assumir o lugar que o iPhone tem há tanto tempo”, afirma Fischmann.

Transformações nos hábitos de consumo

“Nossos smartphones hoje têm mais tecnologia que a primeira nave que foi pra Lua, e estão no nosso bolso”, diz Vicente Martim, professor do curso de Sistemas de Informação da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). Ele destaca que, devido à convergência de mídias em um único aparelho, com infinitas funcionalidades, os celulares se tornaram uma extensão do ser humano. “Eles funcionam como próteses ou como uma memória auxiliar. E eles inclusive fazem telefonemas”, brinca.

Hoje, devido ao acesso mais fácil a esse tipo de tecnologia, vemos transformações em pequenos hábitos cotidianos (não precisamos mais lembrar de datas de aniversário, decorar números de telefone ou saber o caminho para chegar a algum endereço) e até em modelos de negócios. Pequenas empresas, por exemplo, passaram a utilizar smartphones pareados a maquininhas de cartão ou a receber pagamentos via pix.

“O smartphone mudou a nossa relação com a tecnologia e reconfigurou a maneira como a gente existe”, afirma o professor. “Ele transformou a maneira como a gente se comunica, como fazemos negócio, como guardamos nosso conhecimento, como consumimos entretenimento”, enumera.

Toda essa reconfiguração diz respeito a celulares em geral, mas é decorrente, também, do pioneirismo dos iPhones. “A Apple definiu um padrão do que é um smartphone”, afirma Martim. “Ela conseguiu investir em interface, em serviço, e virou um padrão de referência no mercado.”

O desafio, agora, segundo o professor, é adaptar essas transformações em nosso cotidiano, mantendo o que é positivo e eliminando os maus hábitos, como a dependência, por exemplo. “Vale a pena se questionar sobre o tempo que a gente passa na frente da tela”, aconselha.

Futuro pós-tela

Em um futuro próximo, especula-se o surgimento de inovações em novos produtos (desde os já incorporados no dia a dia, como óculos, relógios, TV ou carros, até os que podem estar um pouco mais distantes, como lentes de contato, chips e hologramas) e a integração deles e dos smartphones a outros múltiplos dispositivos.

“Quando pensamos em IoT [Internet of Things ou Internet das Coisas], falamos de nossas casas, ruas, empresas, tudo conectado”, afirma Christian Perrone. “O futuro é continuarmos na lógica de ecossistema digital, com uma separação entre on-line e off-line cada vez menos existente.”

No entanto, quando pensamos em um futuro mais distante, os smartphones podem entrar em declínio.

“O smartphone, enquanto hardware, pode morrer, e a gente vai usar todo esse advento, toda essa inteligência de software e ecossistema, em um mundo pós-tela”, conjectura Camila Ghattas. “A gente terá todos esses serviços em movimento, em um mundo 360º, quase como uma realidade aumentada infinita, que a gente conecta e desconecta em um piscar de olhos.”

Dessa maneira, poderemos, talvez, usufruir de toda a tecnologia em um mundo mais amplo, que não é limitado pelas telas. Seja como for, a Apple, assim como outras empresas de tecnologia, não devem cessar a inovação. “A Apple continuará investindo, seja nas ‘caixinhas físicas’ ou em outras tecnologias”, diz Fischmann.

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