Segundo analistas, o salário de um gerente de segurança cibernética em uma grande empresa brasileira hoje não é inferior a 35 mil reais
O incessante aumento do número de ataques e golpes virtuais contra pessoas e empresas em todo o mundo, tendência que provavelmente se agravará nos próximos anos, faz com que também cresçam de forma exponencial o mercado de trabalho e o desenvolvimento de técnicas para a proteção de dados na internet.
Segundo o relatório publicado no final do ano passado pela Cybersecurity Ventures, empresa especializada em pesquisas no setor, a cibersegurança demandará pelo menos 3,5 milhões de postos de trabalho até 2025. No mesmo período, diz a projeção, os criminosos do mundo virtual irão faturar cerca de dez trilhões de dólares ao ano. Não foi à toa, portanto, que o investimento das empresas estatais e privadas em meios de proteção contra o chamado ransomware e outros crimes cibernéticos atingiu 19 bilhões de dólares ao final do segundo semestre de 2023.
Para não ficar para trás nessa corrida global, o governo brasileiro lançará, em 22 de janeiro, os cursos do programa Hackers do Bem. O objetivo é sanar o déficit de profissionais do setor hoje no País e criar um hub nacional de cibersegurança. A iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em parceria com o Senai-SP, contará com recursos do Programa Prioritário em Informática (PPI) da Softex e será executada pela organização social Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP).
A ambiciosa meta do governo é que até o final de 2025 os cursos, que serão totalmente gratuitos, tenham capacitado pelo menos 30 mil pessoas a atuar como técnicos em cibersegurança. Os cursos serão destinados a estudantes dos ensinos técnico, médio ou superior. Como principal atrativo, salários que já de saída podem ter dois dígitos. Segundo dados de analistas do mercado, o salário de um gerente de segurança cibernética em uma grande empresa brasileira hoje não é inferior a 35 mil reais.
“Vários estudos mostram que temos déficit de profissionais. A projeção é assustadora. A área de cibersegurança é fundamental para a transformação digital, pois, junto com essa transformação, vêm os riscos e os problemas do uso. A proposta do Hackers do Bem é criar alternativas frente a esse cenário, de forma a suprir tanto a demanda dos profissionais por qualificação quanto a demanda das empresas por segurança da informação”, diz Iara Machado, diretora de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da RNP.
O programa Hackers do Bem PPI é financiado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico com recursos repassados pela Financiadora de Estudos e Projetos, a Finep, órgão subordinado ao MCTI e responsável por financiar projetos e programas em Ciência, Tecnologia e Inovação. Presidente da Finep, o ex-ministro Celso Pansera também ressalta a urgência na criação de empregos qualificados para o setor de segurança cibernética: “Temos um enorme déficit de profissionais na área de TICs. Informática e programação são serviços transversais e fundamentais na economia contemporânea. O programa objetiva superar esta lacuna e gerar milhares de bons empregos”.
Segundo seus organizadores, o programa é voltado tanto a quem busca uma nova carreira e quer aprender do zero sobre tecnologia quanto a quem já tem uma experiência inicial e planeja se especializar na área de cibersegurança.
O aprendizado é composto por cinco módulos ou “trilhas” de formação: Nivelamento; Básico; Fundamental; Especialização; e Residência, sendo este último o único módulo presencial. A formação envolve aulas on-line e atividades interativas, ambas estruturadas pela Escola Superior de Redes (ESR), braço de capacitação da RNP. Ao longo de todo o programa, também haverá acompanhamento do MCTI e de especialistas no setor.
Consultora de RH e cursando graduação em Engenharia de Computação, Elisângela Rosa da Silva, 34 anos, revela ter a expectativa de que a nova formação para atuar em segurança cibernética lhe traga mais possibilidades de sucesso profissional: “A proteção de dados hoje é um dos maiores desafios”, diz. Já Letícia Oliveira Silva, 27 anos e formação em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, busca “uma br sólida e abrangente” para atuar no setor: “Espero obter informações cruciais para o meu desenvolvimento profissional, com uma estrutura que destaque a relevância do tema para o público em geral”, diz. Mesmo já possuindo conhecimentos básicos e atuando na área, Letícia quer aprimorar sua br de conhecimento “com uma compreensão mais aprofundada e atualizada das práticas de segurança na internet”.
A previsão é que a formação completa para quem decidir percorrer todos os módulos termine no fim de 2025. A cada etapa, o aluno terá acesso a certificados para comprovar a formação e, com isso, ter novas oportunidades no mercado de trabalho: “O programa irá entregar pessoas ao mercado com vários níveis de qualificação. É uma capacitação completamente sem custos. Mas, é preciso ter um tempo para se dedicar, acompanhar e fazer os exercícios propostos em cada módulo. É uma oportunidade que abrirá portas para muitas pessoas que querem ingressar na carreira”, afirma Machado.