Gil Giardelli: “Estamos vivendo a quarta revolução industrial”

Membro do XMedia da Universidade de Stanford, paulista veio Firjan participar de workshop sobre caminhos para a gestão.


“Sou um estudioso de Cultura Digital, com 16 anos de experiência, e difusor de conceitos e atividades ligados à sociedade em rede, colaboração humana, economia criativa e inovação. Sou professor em cursos de pós-graduação do Miami Ad School e do Inepead/USP.”

Conte algo que não sei.

A primeira revolução industrial foi das máquinas de tear e a vapor. A segunda, a da eletricidade. Em 1980, houve a entrada da tecnologia e dos computadores em massa. Agora, na quarta revolução, teremos a união da inteligência artificial de robôs e humanoides com seres humanos. É a interface homem-máquina, que exige muito mais conhecimento, não o técnico, conhecimento sobre essa nova sociedade. Um exemplo: pela saliva, é possível sequenciar o seu genoma por apenas US$ 22. Há 12 anos, custava US$ 3 bilhões. Estamos vivendo a quarta revolução industrial, que é a união entre os mundos físico, digital e biológico.

Como toda essa tecnologia vem mudando o comportamento das pessoas?

Há uma pesquisa global sobre varejo, e o Brasil sempre esteve entre a primeira e terceira colocação de bom atendimento e sorriso. Nos últimos anos, caímos para as últimas posições. Em virtude da hiperconexão, estamos deixando de sorrir, de atender bem. Em média, uma pessoa com smartphone têm 120 nanotédios por dia.

O que seria isso?

É quando, por exemplo, a aula não está boa, você saca o celular. O jantar com a família não está bom, eu saco o celular. Toda vez que você pega seu celular ou tablet para olhar uma mídia social, você demora de 30 a 40 segundos para entender essa transição. E depois que você fica (na mídia social), demora também para se conectar ao que estava fazendo antes. Isso tem criado uma ansiedade grande nas pessoas.

São doenças da modernidade que a tecnologia acentua?

A tecnologia acelerou muito isso. Todo esse processo que a gente está vivendo hoje de ansiedade, de síndromes, vem da tecnologia, do mal uso dela.

E fica cada vez mais difícil ter a atenção das pessoas…

O mais difícil hoje é ter a atenção das pessoas. Um dos caminhos é experimentar a desconexão. Minsky, que foi uma das pessoas que criou o conceito de inteligência artificial na década de 1950, era um hippie, participou de Woodstock. Ele faleceu ano passado, mas disse sempre: a tecnologia é boa, mas é para sobrar mais tempo para fazer a coisa que mais amamos, que é ficar na vida real com quem gostamos.

Há disputa por atenção dentro da internet também…

Nessa era da geração dos distraídos, ainda acredito que você não deva ser o mais curtido, mas o mais interessante. Quando você entende isso, chegou a hora da produção do conteúdo de qualidade. Até agora, vivemos um momento de memes, que é bacana, mas as pessoas estão com sede de entender o que está acontecendo nesse mundo. Então, não importa que tipo de empresa você é, mas se tem um conteúdo bacana. Você não precisa ser curtido por milhões, precisa ser interessante para aquele público com que você quer fazer negócio. O grande desafio é ser interessante.

O que gera mais curiosidade em suas palestras?

Uma das qualidades da quarta revolução industrial é a empatia. Não adianta você ser um gênio das ciências exatas se não tiver o que é melhor do ser humano, que é a empatia. Eu digo: estudem inteligência artificial, levem as suas indústrias para a inovação, mas não se esqueçam: no final, é o ser humano no centro de tudo.

Fonte: O Globo.

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