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Quando o seu computador dá aquela “travadinha” básica, uma das tentações mais óbvias é forçar o desligamento de forma manual.
Fazer isso é fácil: basta segurar o botão de desligar/ligar a máquina até que a tela se apague (um processo conhecido pelo jargão hard reset). Cômodo e simples, como a tecnologia promete ser. Mas há quem diga que abusar desse recurso pode danificar seriamente o computador, tanto na parte do hardware como no software. Mas será que isso é verdade?
A primeira coisa a ser discutida é a definição de “desligamento” de um PC: resumidamente, as máquinas antigas funcionavam mais ou menos como o interruptor de luz da sua sala, ou seja, uma via permitia a entrada de energia, outra via a negava. Diferente de hoje, com máquinas que possuem modos de hibernação ou vários outros modos de cessão de operação, computadores antigos eram bem mais simples nesse quesito. Assim sendo, o ato de “desligar” um computador, quando feito corretamente, é simplesmente um comando enviado pelo botão correspondente para o sistema operacional, que fechará todas as aplicações antes de ordenar o “corte” na oferta de energia.
Verdade ou mentira? Bom, um pouco dos dois…
É importante ressaltar que o desligamento forçado é uma ação válida. Segundo o engenheiro de computação Levi Rodrigues da Silva, porém, ela é uma que deve ser usada com cuidado: “A prática de hard shutdown [‘desligamento forçado’, na tradução contextualizada do jargão] deve ser vista como um último recurso. As máquinas de hoje usam fontes chaveadas, ou seja, significa que temos circuitos de controle e proteções diversas nas fontes, que antes não tinham, mas problemas eletromecânicos ainda podem ser causados pela súbita interrupção de energia”, explica em entrevista ao Canaltech.
A primeira situação que vem à mente com esse assunto é o HD. O consenso generalizado é o de que a agulha do disco rígido poderia danificar seus pratos fisicamente. Rodrigues indica que há uma certa veracidade nisso, porém não é tão grave quanto as pessoas fazem parecer. Veja: um disco rígido funciona “escrevendo” dados de arquivos em seu prato. Isso é, de uma forma bem resumida, o que “salva” um arquivo. Se no meio desse processo o computador for desligado, o que é mais provável ocorrer é que o arquivo em questão fique corrompido.
“O software tende a ser mais protegido. Se o HD apresentar problemas, isso não significa que é algo no software, porém partes dele podem ser interrompidas e perdidas, especialmente em programas que se ligam a outros: esse ‘caminho’ se perde e o computador não faz a busca por completo. É o caso, por exemplo, de uma pasta que não está acessível, mas outras na mesma área de gravação são lidas normalmente”.
Um segundo caso, este mais grave, é a corrupção de um software armazenado em um componente próprio: “geralmente, esse caso é referente ao armazenamento em um componente de gravação conhecido como ‘SPI’, onde fica a BIOS da máquina. Esse tipo de software é o responsável por efetivamente ligar a máquina e fazer a interface com outros programas. Se ele for corrompido, é possível recuperar as informações de fábrica ou com uma ação de hardware durante o processo de boot, mas isso é usado por um profissional, que terá de abrir o seu computador e acessar a sua placa-mãe”.
Falamos muito sobre computadores pessoais, mas Rodrigues também diz que é importante considerar os smartphones nessa equação. Pela lógica, esses telefones são, a grosso modo, computadores de bolso: eles possuem memória, processador, placa-mãe, sistema de armazenamento, sistema operacional de base e capacidade de instalação de aplicativos. Assim como o seu laptop ou desktop, o desligamento forçado também é possível no aparelho por onde você deve estar lendo isso agora — e isso também requer atenção.
Quando o dano pode ser extenso
É comum em sistemas operacionais como o Windows oferecerem avisos bem notáveis de quando estão rodando processos sistêmicos ou mais sensíveis. Nessas ocasiões, sempre há algum popup ou alerta pedindo que o usuário mantenha a máquina em funcionamento.
Tais processos incluem as atualizações de sistema, instalações de drivers ou manipulação de arquivos essenciais ao sistema. Como Rodrigues pontuou, há casos em que o desligamento súbito pode ocorrer dentro de algum desses processos, que são extremamente importantes para, bom, religar a máquina.
O consenso da comunidade de TI é justamente o de evitar o desligamento forçado, por qualquer razão, durante ações de instalação de uma forma geral: quando você baixa um programa e o instala, por exemplo, vários de seus componentes são alocados em diversas pastas do sistema operacional, o que pode levar ao mau-funcionamento não apenas do que foi baixado, mas também de onde se pretende instalar algo.
E como evitar tudo isso?
Por sorte, os sistemas atuais contam com mecanismos de proteção pré-instalados desde a saída da fábrica. Atualizações de sistema, por exemplo, exigem um nível mínimo de carga na bateria de um laptop. Desobedecida essa recomendação, o processo de update sequer será iniciado.
O engenheiro de computação diz que mesmo usuários mais leigos saberão especular o tipo de problema, o que pode ser útil em uma recuperação: “Se o computador liga, os indicadores LED acendem, o display exibe mensagens, mas o sistema não ‘dá o boot’, como dizem, então o problema está no HD. Trocá-lo pode resolver sem grandes dores de cabeça”.
Casos mais graves podem remeter a falhas mais intensas. Nessas situações, a recomendação é imediatamente procurar um técnico especializado para avaliar o dano e as possibilidades de recuperação: “geralmente, casos assim podem ocorrer quando se corrompe algo ligado à firmware de algum equipamento, ou na gestão de energia. Aqui, a manutenção especializada é o melhor caminho, pois se o técnico detectar que se trata de uma SPI corrompida, por exemplo, pode ser que a recuperação valha à pena mesmo pagando a mão de obra. Entretanto, é bom manter outras opções em mente, pois se o custo de recuperação passar de 30% do valor da máquina — e ela própria já tiver mais de dois anos de uso —, talvez seja a hora de comprar um PC novo”.