UOL Carros consultou especialistas para encontrar a resposta a essa questão. De acordo com engenheiros ouvidos pela reportagem, os tais chips podem até diminuir o gasto de combustível, porém muito menos do que o prometido e com efeitos colaterais que anulam eventual vantagem: perda de garantia, mais emissões de poluentes e menos potência.
“Tecnicamente, é possível diminuir o consumo em até aproximadamente 4% com esses dispositivos, não mais do que isso”, pondera Clayton Zabeu, professor e pesquisador da divisão de motores e veículos do Instituto Mauá de tecnologia.
Segundo o especialista, o segredo dos tais chips é alterar calibragem original da mistura de ar e combustível no motor. Os bicos injetam menos combustível, o que contribui para a maior economia. No entanto, explica, isso compromete a eficácia do catalisador, que deixa de converter gases nocivos resultantes da queima (hidrocarbonetos, monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio) em água, gás carbônico e nitrogênio – que não causam danos diretos à saúde.
“Com esses chips, a mistura ar-combustível na câmara de combustão fica levemente pobre. O catalisador só funciona se mistura for estequiométrica, na qual o injetor fornece a quantidade de combustível necessária e suficiente para não sobrar nem faltar oxigênio na combustão”, detalha Zabeu.
Jargões técnicos à parte, o especialista explica que “mistura pobre” proporcionada pelos dispositivos resulta em emissões de cinco a dez vezes maiores do que as geradas pela especificação original do motor
“No tempo do carro carburado, era possível, com os ajustes corretos, deixar o motor até mais eficiente na comparação com um modelo dotado de injeção eletrônica. Porém, lá atrás, antes da criação do Proconve, o programa governamental de controle de emissões, não havia limites para a poluição gerada pelos veículos”, diz Zabeu.
Everton Silva, engenheiro membro da área de tecnologia de Powertrain da SAE Brasil, tem mais de 20 anos de experiência no desenvolvimento de motores e veículos, para que cumpram os parâmetros de emissões exigidos pela legislação e sejam homologados para venda.
Ele destaca o trabalho necessário para atender esses parâmetros, combinados com metas de eficiência energética determinadas pelo Rota 2030 – o regime automotivo do governo federal
“Existe todo um trabalho de homologação, que envolve calibragem de sistemas diversos, como injeção, ignição e sensibilidade do pedal do acelerador, para cumprir os requisitos legais e entregar equilíbrio entre eficiência, boa dirigibilidade e segurança. Compensa muito mais gastar o dinheiro na compra de um veículo que ofereça o nível de consumo que você procura do que recorrer a esses dispositivos”, alerta.
Perda de garantia
Quanto à perda de garantia, explica Silva, qualquer alteração nos parâmetros originais é registrado pela ECU, a central eletrônica que gerencia as diversas funções do carro e do respetivo trem de força. Assim, as modificações são facilmente percebidas na concessionária, o que pode levar à suspensão da cobertura oferecida pela montadora contra eventuais defeitos de fabricação.
“Mesmo se você tirar o chip antes de levar o carro para uma oficina autorizada, o registro das modificações permanece”.
Existe também a questão da perda de desempenho, que pode até elevar o risco de acidentes
“Para diminuir o consumo, a menor quantidade de combustível injetado reduz o desempenho, deixando o motor inconstante, com perda de força nas acelerações e nas retomadas, além de trazer vibrações excessivas. Assim, o veículo deixa de oferecer uma dirigibilidade aceitável”, avalia Edson Orikassa, vice-presidente da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva).
“A AEA não recomenda a instalação de qualquer chip ou dispositivo que não façam parte dos componentes originais do carro”, afirma