Corretora de criptomoedas informou no Twitter que problemas de liquidez da rival estão além de seu controle ou habilidade para ajudar.
A Binance desistiu de comprar a rival FTX.com, que passa por uma grave crise de liquidez, abrindo caminho para a quebra da sétima maior corretora de criptoativos do mundo. A desistência do negócio aprofunda a crise do segmento de ativos digitais, que perdeu US$ 236 bilhões em valor de mercado conjunto em apenas três dias. Alegando ter encontrado problemas graves no processo de “due diligence”, a Binance foi ao Twitter no fim da tarde desta quarta-feira comunicar que não seguiria no processo de aquisição da concorrente,
conforme analistas e executivos do segmento alertaram na véspera. “Os problemas estão além do nosso controle ou habilidade para ajudar”, disse. A exchange afirmou em nota que a expectativa inicial era oferecer suporte aos clientes da FTX para prover liquidez, mas que não tem condições de contribuir neste momento. “Como resultado da ‘due diligence’ corporativa, bem como das últimas notícias sobre fundos mal administrados de clientes e supostas investigações de agência dos EUA, decidimos que não daremos continuidade à potencial aquisição da FTX.com”, afirmou. A crise da FTX veio a público no domingo, após o CEO da Binance, Changpeng Zhao, conhecido como CZ, ir ao Twitter dizer que iria vender cerca de US$ 530 milhões em tokens da FTX, ocasionando uma corrida dos clientes para retirar recursos da corretora. Diante da situação, o CEO da FTX recorreu a CZ para vender a empresa, negócio que chegou a ser recebido com euforia pelo mercado de criptoativos.
Diante das dificuldades para a conclusão do negócio, o bitcoin e o ethereum desabaram para os menores valores desde novembro de 2020, rompendo sucessivos patamares vistos como piso das cotações pelo segundo dia consecutivo. A confirmação da desistência no início da noite acelerou o movimento.
Perto das 20h (horário de Brasília), o bitcoin era negociado a US$ 15.957, com desvalorização de 13,8% nas últimas 24 horas e de 22% nos últimos sete dias. O ether, moeda digital da rede Ethereum, recuava 15%, negociado a US$ 1.129,40, conforme dados do CoinGecko. O valor de mercado somado de todas as criptomoedas era de US$ 834 bilhões — US$ 236 bilhões a menos que os US$ 1,07 trilhão da manhã de segunda-feira.
Segundo Tasso Lago, gestor de fundos privados de criptomoedas e fundador da Financial Move, o CEO da Binance pode ter manipulado o mercado para fazer com que o token da FTX, o FTT, caísse mais de 80%.
“Provavelmente já existia um problema de solvência e o CZ se utilizou deste artifício para forçar a quebra da FTX, que está com saques suspensos. Com a quebra da FTX, a Binance dominará cerca de 80% do mercado cripto”, disse.
Na opinião de Lago, a derrocada das moedas digitais se dá devido ao ruído provocado pela crise na segunda maior corretora de criptoativos centralizada do mundo, e também pela precificação de risco de uma única instituição dominar 80% desse segmento. “O mercado cripto sofre mais um colapso devido à ausência de liquidez de uma corretora e um fundo que estavam operando alavancados”, avalia. Só este ano, outras três grandes empresas do setor quebraram pelo mesmo motivo: Celsius, Voyager e o fundo Three Arrows Capital.
O gestor acredita que, depois da queda atual, o bitcoin deve se estabelecer em um patamar entre US$ 14 mil e US$ 15 mil.
Ayron Ferreira, chefe de análise da Titanium Asset, acredita que não será fácil para a FTX achar um comprador devido à situação de endividamento. Por outro lado, apesar de uma provável quebra da exchange de Sam Bankman-Fried, Ferreira diz que há um lado bom
relacionado ao aprendizado com essa história.
“Tem um lado positivo nisso tudo, que é o nível de maturidade que o mercado tende a ganhar com as lições aprendidas com isso. A regulação deve ser levada a avançar e as exchanges tendem a tomar medidas de transparência maior, como a prova de reservas (“proof of reserves”), que já está sendo adotada por alguns dos players.” Os tokens FTT, da FTX, depois de derreterem 80% nos últimos dois dias, caíram mais 53,5%, para US$ 2,53, na noite de quarta-feira.
