App chinês permite identificação digital de cães e gatos pelo focinho

O projeto consiste em usar inteligência artificial para reconhecer qualquer raça de cão e gato e pode ser replicado para outros animais.


O reconhecimento pelas digitais, pela íris ou mesmo pelos traços do rosto não é uma novidade para quem antes era acostumado a bater ponto ou liberar catracas com uso de crachás. O mundo da biometria, no entanto, segue com novidades e chega também aos animais.

É o caso da startup de inteligência artificial chinesa Megvii, que desenvolve tecnologias de reconhecimento facial para o programa de vigilância do governo chinês, e que lançou um sistema capaz de identificar e rastrear cães e gatos por meio do reconhecimento digital de seus focinhos. “As características de identificação de um focinho são únicas e têm a mesma complexidade das digitais do dedo humano ou das listras de uma zebra”, afirma o cofundador e CEO da empresa, Qi Yin. “A partir do escaneamento desses traços biológicos, coleiras e chips eletrônicos se tornam obsoletos”, diz.
O inédito projeto da Megvii consiste em usar inteligência artificial (IoT) para reconhecer qualquer raça de cão ou gato, e pode ser replicado para outros animais de reservas ecológicas, zoológicos ou mesmo bichanos de estimação. Com a identificação biométrica, pode-se acessar um banco de dados global com informações como data de nascimento, vacinação e histórico de doenças. Segundo a empresa, para registrar um pet basta fotografar seu focinho com a câmera do app em vários ângulos diferentes.
Desde a última semana, quando a Megvii começou a operar comercialmente, já foram coletados mais de 15 mil impressões de focinhos de animais pelo aplicativo, com uma taxa de 95% de sucesso no reconhecimento deles. “Esse é um bom exemplo de como as novas tecnologias podem melhorar a qualidade de vida da sociedade e, por consequência, dar mais dignidade para os animais que vivem em situação de rua”, afirma Juliana Camargo, presidente da União Internacional Protetora dos Animais.
Nesse projeto, o foco está no bem-estar nos animais de rua. A empresa busca usar a tecnologia para encontrar bichos perdidos, reunir informações dos donos, além de monitorar a criação irresponsável de pets. Com isso, espera-se multar os donos que maltratam os bichos. Em um primeiro momento, o aplicativo está disponível apenas para cães e gatos na China, mas o plano é expandir a operação para vários países até o ano que vem, inclusive o Brasil.
A inovação seria muito bem-vinda no país. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, há mais de 30 milhões de animais abandonados no Brasil. Destes, 20 milhões são cachorros, enquanto 10 milhões são gatos. Para ser ter ideia da dimensão do problema, em 2010, o continente inteiro da Oceania tinha cerca de 36 milhões de pessoas. Esses números são de 2014 – o ano em que foi realizado um estudo do tipo. Portanto, os dados podem estar subestimados.
“Não é fácil para quem trabalha ou é engajado de alguma forma com a proteção animal, saber que a quantidade de animais esquecidos nas ruas é tão grande. Além da vida dura à qual os animais são submetidos, esse valor representa também um problema de saúde pública”, acrescenta Juliana. “O que a biometria pode nos ajudar é ampliar a conscientização de que o abandono precisa acabar e a adoção deve ser promovida”.

Impunidade

“Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos” é crime no Brasil, de acordo com o artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais (Lei .9605), de 1998. A pena de detenção varia de três meses a um ano. No entanto, embora maltratar animal seja crime, os animais são vítimas diretas da impunidade no país.
De acordo com o advogado Carlos Cipro, presidente da Associação Brasileira de Advogados Animalistas, os animais são vítimas diretas da impunidade no país porque são raríssimos os casos de condenação. “O problema está na pena máxima ser de um ano apenas. Uma punição pequena como essa acaba jogando a conduta para o Juizado Especial Criminal, que o considera como um crime de menor potencial ofensivo”, afirma Cipro.
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