O instrumento Moxie consegue produzir a mesma média de oxigênio que uma árvore, transformando parte da atmosfera marciana rica em dióxido de carbono em O2.
A 160 milhões de quilômetros de nós, um instrumento do tamanho de uma lancheira tem produzido oxigênio em Marte com sucesso. Chamado de Experimento de Utilização de Recursos in situ de Oxigênio em Marte (Moxie, na sigla em inglês), o aparelho tem transformado o dióxido de carbono muito presente na atmosfera marciana em gás oxigênio. O projeto faz parte da missão do rover Perseverance e está em atividade desde abril de 2021.
Em artigo publicado na revista Science Advances no dia 31 de agosto, cientistas reportaram que Moxie conseguiu produzir oxigênio ao longo de sete turnos experimentais. Em cada um deles, o instrumento produziu seis gramas de oxigênio por hora, a mesma quantidade média de uma árvore. O aparelho é capaz de executar a tarefa sob as mais variadas condições atmosféricas e nas istintas estações do ano no planeta vermelho.
O progresso de Moxie é um bom sinal para o grande plano dos cientistas, que é estabelecer uma base maior desses equimamentos, de forma que eles sejam capazes de produzir oxigênio na mesma taxa que produziriam centenas de árvores. Isso poderia ajudar a preparar o terreno para futuras missões humanas a Marte.
“Aprendemos uma quantidade tremenda de coisas que informará sistemas futuros em maior escala”, diz, em comunicado, Michael Hecht, investigador principal da missão Moxie e membro do Observatório Haystack do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
Além disso, a tecnologia de “utilização de recursos in situ” mostra que é possível aproveitar os materiais encontrados no planeta para transformar em algo útil a futuras missões, sem ter a necessidade de transportar recursos (como oxigênio) para lá.
“Esta é a primeira demonstração de realmente usar recursos na superfície de outro corpo planetário e transformá-los quimicamente em algo que seria útil para uma missão humana”, afirma Jeffrey Hoffman, professor do MIT envolvido no projeto.
Para fazer isso, Moxie capta o ar marciano, que passa por um processo de filtragem que separa contaminantes. O ar é pressurizado e, então, passa pelo Eletrolisador de Óxido Sólido (Soxe), instrumento que divide eletroquimicamente o ar rico em dióxido de carbono em íons de oxigênio e monóxido de carbono.
Os íons de oxigênio são isolados e recombinados para oxigênio molecular respirável: o O2. Por fim, Moxie mede a quantidade e a pureza do gás e o libera de volta à atmosfera, junto com o monóxido de carbono e outros gases atmosféricos formados no processo.
Para saber mais sobre a capacidade e os limites de Moxie, os cientistas ainda precisam fazer mais alguns experimentos. “A única coisa que não demonstramos ainda é o funcionamento ao amanhecer ou ao anoitecer, quando a temperatura [de Marte] está mudando substancialmente”, cita Hecht. “Temos um ás na manga que nos permitirá fazer isso e, assim que testarmos isso no laboratório, podemos alcançar esse último marco para mostrar que podemos realmente funcionar a qualquer momento.”