Ana Moser questiona a legitimidade dos eSports como esporte

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Em entrevista ao UOL Esporte ontem, dia 10, a ex-medalhista de ouro do vôlei feminino brasileiro, agora Ministra do Esporte no terceiro mandato de Presidente da República de Lula, Ana Moser, afirmou que os jogos eletrônicos não são um esporte de fato, e que não passam de diversão, não tendo lugar no cenário esportivo do país. Por consequência, isso viria a excluir jogadores competitivos da possibilidade de receberem financiamento da Bolsa Atleta por parte da recém-criada Lei Geral do Esporte:

“A questão do esporte eletrônico a nível federal ainda não é uma realidade. Não tenho essa intenção (de investir nisso). A meu ver o esporte eletrônico é uma indústria de entretenimento, não é esporte. Então você se diverte jogando videogame, você se divertiu. O atleta de eSports treina, mas a Ivete Sangalo também treina para dar show e ele não é atleta, ela é uma artista que trabalha com entretenimento. O jogo eletrônico não é imprevisível, ele é desenhado por uma programação digital, cibernética. É uma programação, ela é fechada, diferente do esporte.”

O comentário da ministra rendeu muita repercussão nas redes sociais, com internautas e figuras do meio argumentando tanto a favor quanto contra a opinião de Moser.

O gigante do streaming de esportes eletrônicos no Brasil e dono de um dos canais mais populares do mundo de Counter-Strike: Global Offensive (da Valve Software), Alexandre Borba Chiqueta, o “Gaulês”, foi incisivo, afirmando em vídeo ao ser perguntado por um fã, enquanto jogava, que os praticantes de jogos digitais competitivos país não precisam e nunca precisaram de ajuda alguma do Ministério dos Esportes para continuar em ativa, debochando da fala da ministra.

Já Bruno “Nobru” Goes, o streamer e campeão mundial de FreeFire (da Garena), popular jogo de celular em competições, rebateu a afirmação da ministra, alegando que Moser ignorou todo o processo de preparamento de um jogador profissional, fora o sucesso que os principais atletas da categoria, como o próprio Nobru, que trouxe uma melhor qualidade de vida para seus familiares:

“Senhora ministra, eu queria falar em nome de todos os atletas de eSports, que são muitos aliás, que eSports é um esporte sim! Acho que fazer a comparação que você fez é ignorar todo processo que a pessoa tem de preparo físico e mental para disputar uma competição.

A senhora me desculpe, mas eu acho que a diferença está exatamente na sua imprevisibilidade e no seu desconhecimento deste nosso mercado gigantesco, que movimenta milhões e atrai milhares de pessoas. Tenho certeza que os jogos eletrônicos apareceram para dar novas esperanças para a criançada, mostrar que a gente consegue vencer na vida, assim como eu venci.

Hoje em dia consigo sustentar a minha família e tenho uma empresa com 200 funcionários. Então, senhora ministra, é lamentável saber que a senhora não considera eSports um esporte e que você não pretende investir.”

Os eSports, ou jogos eletrônicos competitivos, são uma indústria em crescimento exponencial. De acordo com a previsão da empresa de pesquisa Newzoo, o mercado global de eSports deve atingir US$ 1,8 bilhão em 2022, com uma base de audiência de 600 milhões de pessoas. Isso representa um crescimento de mais de 20% em relação ao ano anterior.

Esse crescimento é impulsionado por um aumento no interesse dos patrocinadores, aumento da audiência e investimentos em infraestrutura. Grandes marcas como Coca-Cola, Nissan e Intel estão investindo em patrocínios de equipes de eSports e torneios, enquanto as transmissões dos jogos online atraem cada vez mais espectadores. Além disso, estádios e arenas estão sendo construídos especificamente para eventos de eSports, e as universidades também estão adicionando programas de jogos eletrônicos competitivos às suas ofertas educacionais.

Para concluir, se a ministra não entende o tamanho expressivo desse mercado, poderia ter evitado de fazer esses comentários. Os jogos eletrônicos têm se mostrado como uma alternativa positiva para jovens que podem estar vulneráveis ​​a entrar em atividades ilegais ou prejudiciais à saúde. A prática de jogos eletrônicos pode ajudar a tirá-los das ruas e do tráfico, além de oferecer uma atividade saudável e divertida. Além disso, os jogos eletrônicos podem ensinar habilidades importantes, como coordenação motora, equilíbrio, trabalho em equipe e pensamento crítico. Além disso, os jogos eletrônicos competitivos, os eSports, também podem desenvolver habilidades de liderança, comunicação, planejamento e tomada de decisão em equipe.

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