Com a solidificação da profissão de jogador profissional de esporte eletrônico como uma profissão, um dos elementos mais recorrentes nos relatos daqueles que querem seguir carreira no cenário competitivo é a falta de apoio dos pais.
A desconfiança por falta de informação ou simplesmente por preconceito é recorrente. “Como assim, meu filho vai deixar de ir para uma faculdade para se aventurar em um game?”. Se você se identificou, tenha certeza: abaixo, alguns relatos vão te fazer acreditar que isso pode, sim, ser uma ótima opção para o futuro.
Nesta semana, uma postagem emocionante da mãe de um jogador profissional de League of Legends do Santos causou comoção na internet. Maria Cristina, mãe de Mateus “Mewkyo”, recém-contratado pelo Peixe, respondeu a um post sobre as dificuldades atravessadas pelo pro player dizendo que “mesmo desempregada, sem vergonha nenhuma cataria papelão, mas jamais o deixaria desistir”. Pois é: ele quase parou de jogar em maio desse ano; no último fim de semana, foi MVP no CBLoL.
Lembro a 2 meses atrás a gente tinha acabado de perder o relegation pra RED, eu, o @Mewkyo e o resto do time estávamos discord e lembro dele quase chorando desejando boa sorte pra todo mundo pq ele iria ter que parar de jogar pra ajudar a família dele e agora ele tá no client pic.twitter.com/tQcOLntoTX
História parecida aconteceu com o melhor jogador de esporte eletrônico do Brasil. Bruno “Nobru” Goes jogava futebol, treinava todos os dias em busca de um sonho que era muito mais do pai, Jeferson Moreira. Quando o garoto decidiu trocar os campos de futebol e dedicar ao Free Fire, o pai do Nobru então apoiou. O resultado todo mundo já sabe…
Na maioria das vezes em que despontam como potenciais talentos para o cenário, os futuros pro players são adolescentes – às vezes, crianças. Ou seja: o apoio dos pais não só é fundamental, como também acaba se tornando a única forma de eles seguirem em frente com o sonho. Nesse sentido, pesa e muito a responsabilidade das organizações que vão acolhê-los nesse importante período, mantendo uma relação transparente e de total confiança.
Um dos exemplos mais simbólicos, ainda no League of Legends, é o da mãe de Micael “micaO”, tricampeão do CBLoL pela INTZ. Thereza Rodrigues foi além de relatos, entrevistas e depoimentos. Em 2017, ela escreveu um livro chamado “Manual de sobrevivência para pais da geração gamer”. A ideia é justamente organizar as ideias de pais que fiquem atrapalhados diante de um contexto que mistura educação, uma profissão nova e diálogo (muitas vezes, a falta dele).
– Às vezes o camarada não acordava para ir à escola, pode isto? Em contrapartida as notas estavam boas, e as benditas notas, se estivessem ruins, seriam um ótimo álibi para não o deixar jogar mais. Mas eram boas. Alguns especialistas me disseram que bastava o uso adequado. E como nem eles, os especialistas, nem nós sabíamos qual seria a medida certa do uso adequado, resolvi negociar com ele. E, acreditem se quiserem, muita coisa que aconteceu depois com a vida profissional do meu filho, decepcionaram para melhor, como dizia uma grande amiga, para coisas que nos surpreendem tanto, que quando tudo parece que vai dar errado, dá exatamente tudo muito certo – escreve a autora, na descrição da obra.
Na série documental produzida pela Ubisoft Brasil, o episódio sobre a carreira do jogador da Team oNe, de Rainbow Six Siege, Lucca “Lukid” Sereno, mostra os conflitos do garoto com a mãe Maria Ribeiro Sereno. Por passar horas no videogame, inicialmente a mãe era contrária aos jogos. Mas com o passar do tempo, entendeu que o jogo tinha se tornado algo sério na vida dele e que seria uma profissão. Ao longo desse processo, ela compartilhou histórias num blog chamado “Minha mãe é um saco“.
Os exemplos de pais que apoiam seus filhos não se limitam ao território nacional. Michael Winter se tornou uma figura recorrente em competições internacionais de League of Legends. Na arquibancada, tão solicitado quanto os astros que atuam dentro de Summoner’s Rift. Isso porque ele é pai de ninguém menos que Rasmus “Caps”, jogador dinamarquês que, com 20 anos, já foi pentacampeão europeu de League of Legends, campeão do Mid-Season Invitational (MSI) e duas vezes vice do Worlds, o Mundial do game. O perfil de Michael no Twitter é uma verdadeira declaração pública de apoio irrestrito ao filho.
Isso, é claro, sem mencionar quando pais e mães se tornam não só apoiadores, como parceiros comerciais na empreitada. Que o digam Kenia Toledo e Adriana Noronha, mães, respectivamente, de Gabriel “FalleN” e Felipe “YoDa”. Ambas atuam diretamente com as empresas e parcerias administradas pelos filhos e são responsáveis por boa parte do estabelecimento deles como empreendedores à parte do teclado e do mouse. Sem dúvida, motivo de orgulho para todos os envolvidos.
É evidente que as análises devem acontecer caso a caso, e as decisões influenciam diretamente a vida tanto dos pais quanto dos filhos, mas não há como ignorar que, cada vez mais, será algo recorrente jovens que desejam ingressar no cenário competitivo de eSports. Não só como jogadores, mas em tantas outras funções, que vão da comissão técnica à administração, passando por managers, psicólogos, nutricionistas… O mercado do setor é amplo e cada vez mais acolhedor. Com bom senso, e sem preconceito, o final pode ser feliz.