A Uber não informa à polícia ou a outras companhias quando um motorista é retirado de sua plataforma por conta de atitudes criminosas e mau comportamento.
A Uber não informa à polícia ou a outras companhias quando um motorista é retirado de sua plataforma por conta de atitudes criminosas e mau comportamento. Isso é o que mostra uma reportagem do Washington Post publicada nesta quarta-feira (26).
O jornal conversou com atuais e antigos funcionários da Unidade de Investigações Especiais da Uber (SIU). O grupo, que conta com cerca de 80 pessoas, é responsável por acompanhar corridas e mediar possíveis problemas, desde assédios até motoristas que tentam ganhar mais com as corridas.
Apesar de ser um time criado com um bom propósito, o que a reportagem revelou em conversa com cerca de 20 dessas pessoas é que o SIU tem o objetivo de garantir os interesses da Uber antes de pensar no bem-estar do usuário.
Segundo os entrevistados, há um sistema de três chances (o termo em inglês usado é strike, comum no beisebol). Ou seja, caso um mesmo motorista tenha tido mais de três problemas com intervenção do SIU, ele é retirado da plataforma.
Entretanto, investigadores do grupo já falaram de casos de colaboradores que ultrapassaram as três chances e foram mantidos por conta de intervenção de executivos superiores. Em um dos casos, o motorista era acusado de estupro.
Outro ponto controverso é de que os agentes são proibidos de denunciar os motoristas para polícia nos casos de assédio ou estupro. Nem mesmo os investigadores podem aconselhar as vítimas a procurarem por apoio legal. Uma das entrevistadas disse que até mesmo quando o motorista confessa o crime, eles não são autorizados a informar a polícia.
Quando tais colaboradores são colocados para fora da plataforma, a empresa também não permite que outras companhias sejam notificadas sobre aquela pessoa. Ou seja, ainda é possível que o motorista infrator se transfira para outra plataforma e continue a cometer crimes.
A Uber se defende dizendo que esses colaboradores são como prestadores de serviço e não funcionários da empresa, logo ela não precisa tomar responsabilidade sobre os atos dos motoristas.
“Nós criamos o time de SIU não para nos proteger de responsabilidades legais, mas para oferecer apoio especializado para clientes em corridas e lidar com motoristas em situações reais muito sérias”, aponta a empresa via porta-voz. “Caracterizar esse time como algo diferente de suporte para pessoas depois de experiências difíceis só é errado. Nós vamos continuar a colocar a segurança no seio de tudo que fazemos e vamos implementar novas ações, baseadas em aconselhamento de especialistas, para o melhor tanto a nossos clientes, quanto para funcionários”.
Já a gerente de segurança da mulher da Uber, Tracey Breeden, tem uma posição diferente. “No fim do dia, nós não somos juiz nem júri para determinar se um crime aconteceu. Nós estamos aqui para levantar informação, fazer uma decisão de negócios. Não somos a força da lei”.
Por conta disso, os investigadores eram estimulados a não contactar motoristas acusados e evitar aproximação além de condolências para as vítimas.