Estudantes participam de curso on-line sobre educação midiática

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Em pleno ano eleitoral, a responsabilidade de ser irmã de uma adolescente e tia de dois jovens interessados por política fez com que a estudante de administração Poliana Rita, de 27 anos, se matriculasse no curso de extensão em educação midiática oferecido pela Universidade de Brasília (UNB), em parceria com o Instituto Palavra Aberta.


O treinamento on-line é intitulado ‘Mídias, informação e cidadania: ler, escrever e participar do mundo conectado’. As aulas, que começaram no final de junho e devem seguir até setembro, têm o objetivo de fomentar o pensamento crítico acerca das informações circuladas na mídia e de promover o comportamento consciente diante de conteúdos divulgados nas redes.

Poliana destaca a importância de se informar corretamente em relação ao curso. O caminho, segundo a estudante, é aprender a consumir informações confiáveis e suspeitar de possíveis conteúdos enganosos.

“Meus sobrinhos e minha irmã vão votar pela primeira vez. Eles me perguntam o que é ser de direita e ser de esquerda, por exemplo. Muitas vezes, na própria pergunta, vejo que apresentam termos equivocados de cada visão política”, disse a estudante, apontando que o contato com as informações enganosas nas redes sociais pode ter influenciado a interpretação de seus parentes.

Conteúdos enganosos que, na avaliação da estudante, tonificam o debate público neste ano. Diante disso, argumentou Poliana, o curso ‘Mídias, informação e cidadania: ler, escrever e participar do mundo conectado’ propõe que os alunos elaborem um projeto de intervenção para trabalhar o tema da desinformação com a comunidade.

Livros didáticos

Enquanto o ímpeto familiar motivou Poliana Rita a procurar os encontros de educação midiática, o espírito acadêmico foi a justificativa usada pela estudante de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Judith Bustamante, de 40 anos, para iniciar os estudos no treinamento.

Prestes a apresentar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) — que trata sobre livros didáticos discutidos nas turmas de Ensino Fundamental — Judith almeja encaixar nos materiais escolares o assunto da desinformação e adequá-lo à linguagem dos mais jovens.

“A preocupação com a desinformação nos livros didáticos se dá a partir do momento que esses materiais são a base da formação dos alunos. Saber identificar conteúdos enganosos e entender o funcionamento da mídia como um todo faz parte da construção de cidadãos”, argumentou.

Além dos livros didáticos, a discussão acerca do consumo de informações e cidadania deve ser incentivada por toda a sociedade. Neste ponto, Judith afirmou que o seu projeto prático de intervenção trabalhará com a relação entre idosos e o uso da tecnologia para consumir informações na área da saúde.

“Durante o curso, meu grupo e eu decidimos trabalhar com base em uma comunidade de ‘ZAP’ que foi criada na pandemia e que trata de assuntos relacionados à covid-19. Os integrantes do grupo não compartilham fake news, nossa participação é para entender como funciona o fluxo de informação neste meio”, contou.

Teoria e prática

Engana-se quem pensa que o curso de educação midiática ‘Mídias, informação e cidadania: ler, escrever e participar do mundo conectado’ discute, apenas, o combate a conteúdos enganosos na rede. Segundo a professora e analista de informação Fernanda Monteiro, o objetivo dos encontros virtuais é fomentar reflexões sobre todo tipo de informação que circula na sociedade.

“O curso promove uma abordagem científica sobre o uso da informação no sentido de discutirmos, além da veracidade, pontos como quem é o emissor e a quem aquela informação interessa”, explica.

Entre os professores do curso, além de Fernanda, há um outro cientista da informação e dois jornalistas. “Ao aliarmos a profissionais de áreas diferentes, conseguimos aliar a ciência com a técnica”, considerou a professora.

Cidadania

Ao corroborar a ideia do combate à desinformação a partir da compreensão de que o emissor de informações falsas tem interesses e pertence a um contexto, que necessita ser compreendido, a jornalista e professora do curso de extensão Daniela Machado, 45 anos, englobou a educação midiática como um estudo indispensável à formação cidadã.

“Entendemos que a própria ideia de educação passa pela educação midiática. Por isso, defendemos que essa área deve fazer parte do currículo escolar, não como uma matéria específica, mas a educação midiática pode ser trabalhada em aulas de matemática e ciências, por exemplo”, sugeriu.

Porta-voz do Instituto Palavra Aberta, a docente do curso de extensão ‘Mídias, informação e cidadania: ler, escrever e participar do mundo conectado’ também comentou sobre iniciativas do grupo para qualificar professores nas escolas.

“Essa foi a nossa ideia inicial. Ao conversarmos sobre educação midiática com educadores, este conhecimento será passado aos mais jovens, em suas formações”, pontuou Daniela, ao comentar sobre os 12 anos de trabalho do Instituto Palavra Aberta.

Consumo de conteúdos enganosos

A percepção de que a tempestade de desinformação no país é latente e está no dia a dia do brasileiro pode ser representada por uma pesquisa feita pelo Poynter Institute que mostra que quatro — entre 10 brasileiros — recebem conteúdos falsos diariamente.

Financiado pelo Google, o levantamento ouviu, entre 27 de junho e 20 de julho, mais de 8,5 mil pessoas oriundas do Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Nigéria, Índia e Japão. Do total da amostra, 1.177 entrevistados moram no Brasil.

Ao passo que o relatório feito pelo Poynter aponta a um cenário preocupante quanto ao consumo de conteúdos enganosos, uma pesquisa feita pela empresa de tecnologia Walk the Talk mostra que os brasileiros estão mais atentos ao consumo de desinformações.

Realizado no ano passado, o levantamento ouviu 4.100 pessoas. Dessas, 56% disseram ter mais atenção com as informações enganosas.

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