2024 seria o fim do Home Office?

O trabalho remoto, antes visto como tendência irreversível, perde força em 2023.


O número de dias home office na semana despencou 40% no mundo e quase 50% no Brasil desde 2022. A grande maioria das novas vagas passou a exigir presença integral no escritório. Enquanto o modelo remoto perde fôlego, porém, ganha força a ideia da semana de quatros dias.

Velho normal

A queda do home office fica evidente em casos de gigantes de tecnologia. Apple, Amazon, Google e Meta, que liberaram maior parte dos funcionários para o trabalho remoto, agora requerem pelo menos três dias presenciais por semana. Monitoramento de presença passou a ser critério de avaliação no Google.

Outras como Disney, Salesforce, BlackRock e Goldman Sachs também exigiram retorno ao escritório, integral ou parcial. Até a Zoom, símbolo do home office na pandemia, quer dois dias presenciais dos funcionários por “ser mais efetivo”.

Levantamento da Unispace com 17 países mostra 72% das firmas implantando políticas de volta ao escritório desde 2022. Como resultado, o trabalho remoto despenca no mundo. Pesquisa do WFH Research revela queda de 1,5 para 0,9 dia home office por semana em média global de 2021 a 2023. No Brasil, de 1,7 para 0,9 dia.

Quem recruta sente mudança de perto. “Até empresas 100% home office voltam ao escritório”, afirma Ana Paula Prado, da Infojobs. Pesquisa da plataforma aponta 94,8% das vagas como totalmente presenciais em 2023. LinkedIn confirma: vagas com trabalho remoto caíram de 39% para 25% no Brasil em um ano.

Cabo de guerra

Empresas justificam retorno ao escritório por questões de cultura, colaboração e controle. Também por já terem investido em espaços físicos. Porém, principal motivo é produtividade.

No começo da pandemia, funcionários se diziam mais produtivos em casa. Porém, autoavaliação não é métrica confiável. Estudos recentes do MIT e Fed de NY com grupos de controle mostraram queda de 18% e 4% na produtividade no home office, respectivamente.

Já no modelo híbrido, pesquisa em ONG de Bangladesh revelou maior produtividade para quem ia ao escritório duas ou três vezes por semana versus colegas 100% presenciais.

Trabalhadores apreciam economia de tempo e dinheiro do home office, apesar de sentirem falta da interação no escritório. Pesquisas apontam 76% veem modelo híbrido como ideal. Porém, existe impasse sobre número de dias remotos entre funcionários e empresas.

O que muda

A volta ao escritório trará mudanças profundas. Um problema são funcionários que se mudaram durante o trabalho remoto total. Empresas adiam dilema estipulando raio máximo de distância até escritórios. Mas quando exigência é dura, trabalhadores pedem demissão ao invés de se mudar novamente.

Outro impacto é na inclusão. Pesquisa nos EUA mostra chance de contratação para pessoas com deficiência aumentou 3,5 pontos percentuais com o home office. Grupos temem retrocesso com o escritório obrigatório.

Para mulheres com filhos trabalho remoto também foi aliado. Nos EUA, 18% das mães empregadas mudaram de empresa ou pediram demissão em 2022 por falta de flexibilidade. No Brasil, mulheres fazem mais home office que homens, segundo IBGE.

É o fim?

Embora empresas se mostrem ferozes pela volta ao escritório, seria precipitado decretar fim do home office. A insistência no presencial pode ser tiro no pé na atração de talentos, principalmente em cenário de aquecimento do mercado.

Modelo híbrido tende a sobreviver. “Acredito que o híbrido é a realidade e não tem como fugir disso”, diz Fernando Mantovani, da Robert Half. Empresas que optam pelo 100% presencial podem ter problemas competitivos na busca por profissionais.

Em vez de discutir modelo de trabalho, outra ideia ganha força: trabalhar apenas quatro dias por semana.

#Quintou?

A semana de cinco dias não é natural, e sim invenção recente. Antes, comandada pela religião, rotina se organizava em ciclos de sete dias, com um de descanso. Foi só no século 19, com automatização nas fábricas, que se vislumbrou fim de semana maior, primeiro na Inglaterra e depois nos EUA.

Henry Ford criou semana de cinco dias em 1926. Objetivo não era beneficiar funcionários, mas aumentar produtividade e consumo, dando folga para que trabalhadores dirigissem seus Model T recém-adquiridos.

Hoje, no entanto, semana de quatro dias visa sim o bem-estar. Experimentos em diversos países mostram que produtividade se mantém ou melhora. Na Islândia, teste nacional com participação de 1% da força de trabalho do país resultou em sucesso. Esse é o caso mais emblemático.

No Brasil, pesquisa da Cia de Talentos indica 76% dos profissionais se sentem mais produtivos e 87% mais felizes com semana de quatro dias. Entre as empresas que adotaram, estão grupos como Prosegur, Belupo e Squid.

Benefícios relatados vão além de produtividade e satisfação. Trabalhadores dizem se exercitar mais, ter mais tempo com família e para tarefas domésticas. Já empresas citam melhora no engajamento e diminuição da taxa de turnover.

Resta saber se este pode ser o futuro dos escritórios. Enquanto trabalho remoto perde força, semana de quatro dias ganha como tendência. Pode representar o ponto de equilíbrio entre vida pessoal e profissional no pós-pandemia.

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